Comunicar, comunicar sempre

O dedo em riste, as fúrias e os palavrões (para não falar das agressões físicas) poderiam ser evitados, em grande medida, através de um sistema de comunicação colocado na retaguarda dos carros. Assim, com uma simples pressão num botão, um painel mostraria ao condutor ultrapassado delicadas expressões como "Obrigado", "Desculpe" ou mesmo "É muito gentil". E este, por sua vez, dificilmente não corresponderia com um aceno ou um breve OK de faróis.

Esta é, pelo menos, a proposta de um psicólogo americano em "Man Hopes Green Light Will Stop Road Rage". Ao que parece, os americanos também se desconsideram na estrada.

Alguns condutores, penso eu, iriam até mais longe, sofisticando a cortesia. Por exemplo: "Obrigado por me deixar fazer esta manobra estúpida e perigosa. É que estou atrasado porque o pimpolho não me deixou dormir nada esta noite" ou "Desculpe a buzinadela, mas a minha vizinha está a ter um bébé neste momento lá atrás" ou ainda "Lamento imenso o susto que lhe preguei, mas já vinha há muito tempo atrás de si, o que, convenhamos, não é nada agradável, pois o seu carro deita muito fumo". Encontraríamos mesmo variações idiossincráticas: "Tá-se bem" ou "Ó amigo, não me diga nada, carago, que já me basta o cagaço que eu apanhei".

O problema é que o dispositivo servirá igualmente, mais cedo ou mais tarde, para traduzir em veementes flashes tudo o que vai verdadeiramente na alma do condutor da frente. Trata-se apenas de uma questão de programação e de vocabulário. E de, ao escrever em público, nos sujeitarmos à vigilância semântica da BT. Pelos palavrões e pela ortografia.

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