in e out
visito uma amiga no temporário ninho de cucos. é a primeira vez que compareço num retiro deste género. mas apenas vejo pardais e asas feridas. silenciosos. a televisão murmura uma espécie de canal panda para crescidos. barras nas janelas dão para um dia cinzento. para paredes cinzentas. dorme uma mulher debaixo das festas do marido. outro esconde o rosto nos braços cruzados sobre a mesa. às vezes levanta o olhar. onde está o nicholson? não há índios por aqui. tranquilo volta aos seus braços. às suas barras. um quadro branco revela os humores do grupo. o grupo faz autocrítica. hoje estou cool. ontem foi blue. amanhã uma cor qualquer. mas é uma escala de zero a não sei quantos. vejo alguns zeros em roupão de treino. zero menos a minha amiga. falamos e rimos baixo. uma hora mais cedo e teríamos jogado às cartas. fico alarmado de repente. sei que não me distingo dos restantes. podiam trancar-me aqui por erro administrativo. por absurdo. não tenho provas do que sou ou do seu contrário. provas que me deixem lá fora. felizmente aproxima-se a hora do jantar. estou menos tenso. despedimo-nos e lanço uma boa-noite à sala. alguns zeros respondem. a enfermeira marca o código na porta. espero que não se engane ou toca o alarme de evasão. saio apenas eu. o breve conde de monte-cristo. saio enfim para a claridade do pátio molhado. espero que a minha amiga descubra a senha de saída.
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