o roubo *

- Bom dia.
- Bom dia.
- Dê-me um café e uma água.
- Com gás?
- Sem.
- Natural?
- Fresca. E um SG.
- Filtro?
- Ventil.
- Não há.
- Então Gigante.
- Pode ser Luso?
- Pode. Tem telefone?
- Ao fundo.
- Troca-me cem escudos em moedas?
- Troco.
- Não se mexa. Isto é um assalto.
- Está a brincar.
- Não estou. Passe para cá o dinheiro.
- Tenha calma.
- Estou calmo. Dê-me o dinheiro.
- Todo?
- Todo.
- Já é a terceira vez esta semana.
- Para mim é a primeira.
- A primeira?
- A primeira.
- Não parece.
- Ora essa. Porquê?
- Parece um profissional.
- Acha? Obrigado, estava com medo de dar barraca.
- A primeira vez é sempre assim.
- Vá lá, despache-se com a massa.
- Tem estado fraco hoje. Há bola na televisão.
- Ai sim? Quem joga?
- A selecção. Mas tenho a televisão avariada.
- Mas ela está ligada.
- Sim, mas não dá no segundo.
- Ah!
- Aqui tem.
- Cinco mil?
- Já lhe disse que tem estado fraco.
- Olhe, vamos fazer assim. Venho cá noutro dia e acertamos as coisas.
- Como queira.
- Está aberto no sábado?
- Só até às dez.
- Há aqui algum café aberto?
- O Central.
- É longe?
- Ao fundo da rua.
- Obrigado.
- Esqueceu-se do guarda-chuva.
- Obrigado.
- Nada, volte sempre.
- Até sábado.
- Até sábado.

* recuperado de 1992

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