Objectos perdidos II

Lembro-me de:

- recortar e colar as "Lendas de Portugal". A cola era de farinha e as páginas do album cada vez mais espessas;
- devorar a "Cruzada", revistinha católica, saída não sei donde, que se dedicava fervorosamente a lembrar histórias do martírio cristão atrás da Cortina de Ferro;
- resolver repetidamente, até à náusea, puzzles das colónias, recortados pelo meu tio Zé a partir de mapas colados sobre uma fina prancha de madeira;
- passar horas a produzir dezenas de sticks de madeira para jogar hóquei, em vez de futebol. Cada um durava, em média, um ou dois minutos;
- surpreender a Ti Rosa, parteira curiosa e de barbicha de bode (foi a que me puxou para o mundo, afinal), a fazer benzeduras na cozinha, debruçada sobre um pires com azeite;
- abrir a porta a visitas (algumas estrangeiras) que saudavam o meu Pai com um extraordinário "Salutas Samideano". Eram esperantistas e levavam da melhor literatura portuguesa vertida em Esperanto (antologia de contos), além de jogos e livros de histórias (tudo isto ainda religiosamente guardado);
- começar a odiar a guerra colonial por razões dietéticas: o ser obrigado em África (diziam-me) a alimentar-me exclusivamente de bananas, que detestava !

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