A hora do túnel

Sem avisar, Portugal entrou um dia no túnel do tempo (ou seria um buraco de verme?) e não voltou. Não há certezas quanto à saída do outro lado: esbarrou provavelmente na sublime sova de Henriques a sua mãe ou enfiou-se, em hora de ponta, no leito de Dona Carlota Joaquina. De qualquer forma, saiu para não voltar. É contumaz.

Portugal, se voltasse, recolheria tarde (e sem chave de casa). E ao velho Português residente, discreto hífen entre os anos, pouco ânimo restaria senão para tagarelar a sua preocupação com a demora. O menino são horas de chegar? Pois fica de castigo sem o jipe a semana inteira.

Então que fazer? - perguntava Lenine nos dias difíceis (e Abrunhosa nos restantes). Simples: escavemos! Sim, escavemos. Escavemos túneis e contra-túneis, à procura. Escavemos.
Minar é a solução clara para o nosso problema – embora suja, muito working class e cerveja preta, minemos. Como Diógenes à procura, procuremos. Não o Homem, mas o País desaparecido sem avisar. Não só de lanterna, à picareta também, a minar. Não cínicos, não senhor, mas em fila e radicais, como na Branca de Neve e no MRPP dos murais. Levados, levados, sim. Tunelemos. Pelas hortas e pelos condomínios, no Marco e na 2ª circular. Escalavremos. A terra ainda é larga, sobra para todos. Esqueçam Olivença e os subsídios. Cavemos.

O Português braçal tem, pois, uma obra e um destino pela frente: o túnel. E o seu fundo. O fundo do túnel. E ao fundo, branca e leve aleluia, qualquer luz. Ou, branco e hard aleluia, qualquer Frota. Qualquer ponte cintilante meu irmão.

O fundo do túnel: Alfa de Centauro ou Bruxelas, Quinta da Marinha em Belém. Tanto faz. Cava e emergirás. É a hora do túnel. É a hora do túnel.

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